Pasteur - excerto do livro

Depois de tudo o que estudara sobre Pasteur e da conversa com Jean Marc, a minha curiosidade estava bem aguçada. Já não me sentia contrariado por ter de fazer aquele trabalho e, tal como o meu professor tinha sugerido, comecei a achar que o jornalismo era uma actividade muito interessante. As tardes que passei a pesquisar, sobre o cientista, e os apontamentos, que fui recolhendo, eram uma boa base de trabalho, mas falar com o próprio Pasteur era imprescindível e, apercebia-me disso agora, uma oportunidade única.
A saúde de Pasteur não lhe permitia grandes esforços. Falámos quase sempre num recanto da casa que tinha uma enorme janela, e onde a temperatura era amena. Louis Pasteur recebeu-me com um olhar envergonhado. Confirmou-se de imediato a ideia que eu já formara acerca dele: era um homem reservado, modesto, contido.
Depois de bem instalados, Pasteur abriu os braços e encolheu ligeiramente os ombros:
– Diga-me como quer fazer isto, Philippe…
– Quer ir falando do que lhe apetecer?
– Não, isso não. – A sua forma metódica de trabalhar revelou-se logo ali. – Podemos saltar partes importantes…
– E se fôssemos desde a infância até aos nossos dias? – sugeri, a medo.
– Pode ser, vamos passo a passo. Vou dizer-lhe uma coisa: agrada-me que façamos o percurso assim. Sempre achei que a minha vida era um encadeado de coisas que se preparavam umas às outras, percebe? Tudo teve como consequência uma etapa seguinte.
– Muito bem – disse eu. – Vejamos… Nasceu em Dole, aqui em França…
– Sim, mas depois fomos logo para Arbois. Não me lembro de Dole.
– E era um bom aluno?
Eu sabia a resposta, mas não queria cometer a indelicadeza de lhe dar a perceber que conhecia o seu percurso escolar.
– Não, de todo! Era um aluno vulgar. Sempre fui lento, muito lento. Às vezes, quando percebia que estava a fazer alguma coisa errada, parava e recomeçava. E nos exames nunca fazia nada de jeito… eram sempre uma desgraça, não calcula! Os professores não davam muito por mim… Levei tempo a conseguir o que queria.
– Mas no desenho…?
– Aí, sim, era muito bom. Quero dizer – disse Pasteur, a rir –, era bom para a gente de Arbois. Não faço ideia se teria tido sucesso fora daquele sítio. O meu pai também tinha esse gosto pela pintura. Passávamos tardes nisso. Mas ele achava que a vida de artista não ia dar em nada. O que ele queria mesmo era que eu fosse professor. Isso sim, era uma profissão digna.
– E a sua mãe?
– Ui! Uma pessoa espectacular! Tinha uma imaginação imparável. Não havia um único projecto que a assustasse! Atirava-se a tudo com a certeza de conseguir.
– Herdou isso dela…
– Talvez – respondeu Pasteur, pouco à vontade. – Tive a sorte de ter uns pais extraordinários. Veja só isto: como eu era um aluno mediano, o meu pai estudava comigo. Ele quase não tinha instrução, mas aprendia ao mesmo tempo do que eu, e lá íamos avançando. Fez isto toda a vida.
– Toda a vida…?!
– Sim. Eu sempre lhe mandei informações sobre o que ia estudando, descobrindo. Claro que o fazia de uma forma simplificada, mas ele seguia tudo.
– Extraordinário, de facto…

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