Shakespeare - excerto do livro

– Diz-me lá outra vez porque é que achas que Shakespeare é o mais indicado – pediu Susana a Júlio, como se sentisse que era uma boa aposta sem entender a razão. – Podíamos ir para autores portugueses, sei lá, Gil Vicente, por exemplo…
– Há imensos grupos a trabalhar Gil Vicente, ninguém precisa de mais um. Mas, em relação a Shakespeare, não há quase nada para jovens. O que eu gostava era de apresentar um espectáculo em que ficasse patente o talento de Shakespeare, e se desse informação sobre a sua vida e obra de uma forma divertida e cativante.
– Ah, não ias usar os textos de Shakespeare…? – concluiu Marta.
– Não! Para isso pegávamos nas peças – disse Júlio. – O que era importante era juntar informação com características…
– Mas como é que fazemos isso? – perguntou Susana. – A dificuldade está aí!
– Pensem – pediu Júlio. – Em que é que Shakespeare foi genial?
Os outros três sorriram. Ali estava Júlio no seu melhor, tentando levar os colegas a entender as suas ideias.
– Foi um poeta, um actor e um dramaturgo – enumerou Marta.
– Talvez um dos maiores dramaturgos de todos os tempos – corrigiu Júlio –, já para não falar na questão da encenação. Shakespeare também encenou peças. Mas sabe-se muito pouco sobre ele. Quanto à genialidade…
– Tens a sua forma extraordinária de construir personagens, o que vai marcar para sempre o universo do teatro, para além dos enredos complexos e retratando o mundo de uma forma singular – completou Carlos. – Mas estamos a falar de um público jovem não muito motivado e pode acontecer que…
– Calma! Eu sei disso! Por isso mesmo é que vos proponho que construamos uma peça em torno de Shakespeare, onde aparecem as suas facetas – esclareceu Júlio – e, e isto acho que será verdadeiramente crucial, a sua maneira de pensar acerca da vida.
– Explica-te melhor… – pediu Susana.
– Shakespeare seria a personagem central da peça… Depois, acho que podíamos pegar nos títulos de todas as trinta e sete peças, e até da poesia!, se fosse preciso, juntávamos-lhes citações importantes que sejam cativantes para os jovens e… Zás! Surgia um espectáculo original. Para além de reinventar um Shakespeare teríamos de construir outras personagens que fossem completas e complexas, um enredo cheio de traições, desencontros, ambição, amor…
– Espera aí! – pediu Carlos, tentando acompanhar o raciocínio. – E porque é que pões Shakespeare como personagem central…?
– Para poder colocar na sua boca as citações – justificou Júlio. – Sempre fica mais realista, não achas?
– Por acaso penso que devíamos ir distribuindo as citações conforme o evoluir do texto – comentou Marta, parecendo já aceitar como certa a peça que Júlio propunha. – Tu és terrível, Júlio! Já estou para aqui a imaginar cenas na minha cabeça.

Sem comentários: