Marie Curie - excerto do livro

– Tu não vais entrar aí, João… ou vais?!
Madalena estava com medo de que os dois amigos se metessem dentro daquela espécie de celeiro. Mas nem João, nem Afonso se preocuparam com isso.
– Estou a dizer-te que é aqui! – informou João. – Se a direcção está correcta, é neste sítio. Anda lá, Madalena, não sejas medricas!
Os dois rapazes já tinham aberto a porta do velho barracão. Entre ficar ali sozinha e ir com eles, Madalena escolheu segui-los. No entanto, mantinha-se desconfiada. Aquilo não era mais do que um velho anexo de uma escola desactivada.
Ao saírem de Lisboa para fazer a viagem de Inter-Rail, o que não era ainda muito habitual em 1978, não estava nos planos daquele grupo de amigos parar tanto tempo numa única cidade. Mas Paris fascinara-os de tal forma que foram ficando e conhecendo muitas coisas interessantes. A razão da visita a um barracão, que em nada se parecia com um laboratório, foi uma conversa na pousada da juventude onde estavam alojados.
Um estudante de química, polaco, no seu último dia em Paris, contara-lhes que estivera a fazer um estudo sobre a vida de Marie Curie. Falara-lhes das descobertas que esta mulher levou a cabo, dos prémios Nobel que ganhou, da importância da radiologia por ela desenvolvida, da sua personalidade forte e persistente.
O rapaz contara-lhes que Marie Curie, nascida na Polónia em 1867, tivera de sair do seu país para poder estudar. A forte opressão russa, que ali se vivia nessa altura, proibia que as mulheres estudassem para além do secundário. A universidade era só para os homens! Estas informações deixaram os três amigos curiosos e com vontade de saber mais sobre essa polaca, que viera para Paris com a intenção de estudar.
O jovem polaco deu-lhes a morada de um antigo laboratório onde Marie e o seu marido, Pierre Curie, descobriram a radioactividade. Para os três amigos, acabados de sair do secundário e com a entrada para a faculdade pela frente, aquela conversa com o estudante fora muito estimulante. Madalena e João iriam para engenharia química, Afonso para medicina. Madalena tinha pensado: como seria querer prosseguir os estudos e ser impedida de o fazer…apenas por ser rapariga?!
A vida de Marie Curie não lhes era totalmente desconhecida, e estar em Paris, com informações sobre um local tão importante para compreender a vida daquela mulher, e não aproveitar a oportunidade, seria um disparate.
– Isto parece um estábulo – resmungou Madalena. – Não deve ser aqui…
– Eu acho que é mais um armazém de batatas – brincou Afonso, começando também a desconfiar de que aquele local não poderia ser o lendário laboratório dos Curie.
Os três jovens estacaram ao entrar. Agora sim, podiam ver o que se encontrava dentro do barracão. Inexplicavelmente limpa, uma enorme mesa com vários utensílios dominava o espaço central da ampla divisão. Sem falarem uns com os outros, foram andando à volta de instrumentos, blocos, cadeiras.
Madalena sentiu um arrepio.
– Isto é muito esquisito… Parece que acabaram de trabalhar aqui ontem…
– Uuuuuu!!! – gozou João. – Há cá espíritos!
– Não sejas parvo, João. A Madalena tem razão. Está tudo arrumado, tudo organizado. Não faz sentido.

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