Galileu - excerto do livro

– O que é que estás a fazer, avô?
– Credo, Filipa! Que susto!
O avô pôs a mão direita no peito, enquanto a esquerda se mantinha a orientar o telescópio para o céu. A neta riu-se, pois sabia que ele estava a fingir que se assustara.
– És tão maluco!
– Então?! Isso é forma de falar com o teu avô?
– O que é que estás a fazer?
– Bem, não estou a lavar loiça, não estou a jogar às cartas… também não me parece que esteja a tomar banho…
– Pára com isso! Diz qualquer coisa a sério!
– O que é que querias que estivesse a fazer? Estou a ver as estrelas!
– Mas tu percebes alguma coisa disso, avô…? Não achas que o tio Luís se vai zangar por estares para aí a mexer no telescópio dele?
O avô encolheu os ombros. O seu filho mais novo nunca se importaria. Além disso, a avaliar pelo pó que o instrumento tinha, ao contrário do aspecto da varanda, que estava impecavelmente cuidada, Luís não lhe mexera nos últimos meses.
Filipa obrigou o avô a sair da frente do telescópio para poder espreitar. Era impressionante o que se conseguia ver! As estrelas pareciam estar a pouco mais do que alguns quilómetros, embora ela soubesse que estavam a milhões de anos-luz de distância.
– Aquela é a Ursa Maior? – perguntou a neta.
Alberto olhou pelo telescópio e confirmou.
– É, mas para a ver não precisas disto. Vê-se à vista desarmada.
– Mas a espreitar por aqui é muito mais engraçado…! Isto tem um bocado de pó na lente, não tem? – Filipa eliminou a sujidade com a manga da camisola.
– A tua mãe não vai achar graça a isso – comentou o avô.
– Não se nota – disse a neta, sacudindo a manga enquanto observava os céus. – Isto é espectacular!
– Sabes quem inventou o telescópio? – perguntou o avô, desafiando a neta.
– Claro que sei! Foi Galileu, dei isso no ano passado. Mas não foi bem inventar, foi antes melhorar o que uns outros, que já não me lembro quem eram, já tinham inventado. Não está certo dizer que foi ele sozinho…
– Muito bem, afinal não és completamente analfabeta – brincou o avô, espicaçando Filipa, que possuía uma curiosidade fantástica por todos os ramos do conhecimento. – Valha-nos isso…!
Filipa mostrou-lhe um falso sorriso. Bem sabia que ele a estava a provocar… Voltou a inspeccionar o céu. Era uma visão extraordinária. Quando se virou de novo para o avô, tinha o sobrolho carregado.
– Por acaso, por acaso… – começou –, não sei muita coisa sobre Galileu.
– Até que enfim! Ao menos há uma coisa que não sabes!
Filipa ignorou a brincadeira.
– Estava aqui a pensar… Tenho de escrever um trabalho sobre uma personalidade importante da história mundial.
– Para a escola?
– Sim. Podia ser sobre Galileu, não era? Foi um nome importante da Astronomia e da Física, não foi? Acho que era uma boa ideia!
– Já me está a parecer que vai sobrar trabalho para mim! – queixou-se o avô, fingindo, mais uma vez, coisas que não sentia. – Lá porque eu me interessei por Galileu na minha juventude, isso não quer dizer que te vá ajudar nos trabalhinhos da escola.

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