Leonardo Da Vinci - excerto do livro

– Eu tenho razão, não achas, avô? É que fazer as coisas bem feitas demora o seu tempo… – disse Leonor, num tom suplicante. O avô era o único adulto com quem conseguia falar abertamente, o único que a compreendia.
– Vou-te contar a história de um homem, muito conhecido, que também tinha o mesmo problema que tu, apesar de já ser adulto, apesar de ter um enorme talento, apesar de ser um génio. O seu nome era Leonardo, Leonardo da Vinci.
– Já ouvi falar dele. Era um pintor italiano, não era?
– Era mais que isso. Mas sim, ele era italiano, nascido na pequena cidade de Vinci, ou numa aldeola lá perto, em 15 de Abril de 1452, perto da cidade de Florença, que na época era o centro artístico e intelectual de Itália.
– Abril... 15 de Abril... então era Carneiro.
– Se ele era esse bicho, isso eu não sei, Leonor!
– Não é o animal bicho, avô, é o signo!
– Eu sei, estava só a brincar contigo, querida, mas de signos eu, de facto, percebo pouco. Carneiro ou não, sei é que ele tinha imenso talento para o desenho e para a pintura e uma inteligência notável. Terá provavelmente sido o Carneiro mais inteligente de todos os tempos.
– Não gozes, avô!
– Mas apesar disso, tanto quanto sabemos, Da Vinci produziu relativamente poucas obras. Parece que, até aos nossos dias, chegaram menos de vinte pinturas e olha que foram mais de quarenta anos ligado à arte. Mas, por outro lado, entre essas obras está o quadro mais célebre de todos os tempos, a Mona Lisa, e estão outros trabalhos verdadeiramente notáveis.
– Porque é que são tão poucos?
– Há quem diga que muitos dos seus trabalhos se podem ter perdido, mas a explicação mais natural tem a ver com o facto de a maior parte das suas obras ter demorado vários anos a executar. Entre o momento em que foram iniciadas e o momento em que foram concluídas passava muito tempo, por vezes, mesmo muitos anos.
– A sério?
– E sabes que, na sua época, isso nem sempre era bem compreendido. Conta-se que as pessoas comentavam a imensa lentidão dele em acabar os trabalhos: a visão geral era que, se houvesse uma competição para o pintor mais lento, Da Vinci teria facilmente ganho o primeiro prémio. Parece até que o Papa Leão X o considerou “um original que nunca fará coisa alguma, porque pensa no fim antes de ter começado”...
– Que injustiça! Coitado do Da Vinci! – exclamou Leonor, indignada.
– Estou aqui a pensar, com os meus botões, que se calhar o Papa não gostava dele por ser “leão”. Os leões sempre consideraram os carneiros como animais inferiores.
– Não gozes, avô. Conta mais!

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