– Sabes quem era Mahatma Gandhi? – perguntou Luís. – Na realidade ele chamava-se Mohandas Karamchand, mas as pessoas chamavam-lhe Mahatma que significa Grande Alma.
O rapaz olhou-o como se ele estivesse a delirar. A que propósito é que vinha essa questão? E que interesse é que tinha se Gandhi se chamava “não andas escarranchado” ou “mas ata-ma”, ou lá como é que aquilo se pronunciava. Apeteceu-lhe responder “não sei, nem quero saber, estou cheio de dores”, mas calou-se.
– Falo nisso pois, uma vez, quando regressou à África do Sul, ao sair do navio que o trouxera da Índia, ele foi cercado por uma multidão em fúria.
– O que é que ele fez para merecer isso?
– Absolutamente nada. Foi acusado de duas coisas de que era inocente.
Ric reagiu, desconfiado. Ele detestava quando, em resposta a uma queixa sua, o pai lhe lembrava que havia sempre alguém pior do que ele. Mas, em breve, a história começou a interessá-lo.
Ric fechou os olhos, à medida que Luís falava, e imaginou a cena: Gandhi, de pé, cercado pela multidão ameaçadora. “Viu-o” a ser afastado do amigo que estava com ele e a ficar isolado, sozinho, rodeado de gente hostil. Imaginou-se no lugar dele, e sentiu o medo que ele deveria ter sentido e o impacto das pedras, dos ovos podres e dos pedaços de tijolo que lhe atiravam. Sentiu-se a ponto de desmaiar, como acontecera com Gandhi que se agarrara à vedação de uma casa, tentando manter-se de pé e recuperar o fôlego, enquanto eles continuavam a bater-lhe.
E depois, quando tudo parecia perdido, viu a mulher do chefe de polícia que, corajosamente, se colocou entre ele e a multidão, de sombrinha aberta, protegendo-o. Na imagem criada por Ric, aquela mulher tinha a cara da sua colega Margarida, a única rapariga da turma que ele imaginava com coragem para fazer uma coisa dessas.
Luís continuava a descrição.
– Gandhi conseguiu, com a ajuda do chefe de polícia, proteger-se na casa de uns amigos, mas na rua a multidão continuava a gritar “queremos Gandhi” e parecia disposta a invadir a casa para o apanhar.
– O que aconteceu a seguir? – questionou Ric, curioso.
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